Seguindo a corrente para apresentar mulheres em blockchain que estão transformando suas realidades, hoje eu, Dari Santos, co-fundadora e presidente do Instituto Alinha, entrevisto Taynaah Reis, fundadora e CEO do Moeda Seeds.
Logo no início da nossa conversa, Taynaah recorda que nos conhecemos em um evento no Rio de Janeiro, há algum tempo atrás. Na época, a Moeda estava iniciando uma parceria com a marca Catarina Mina, pioneira na transparência e abertura de custos dos produtos para os consumidores.
As artesãs que trabalham na cadeia de produção da marca recebem a remuneração por peça produzida, além de uma comissão quando a peça é vendida.
Para garantir confiabilidade dessas transações, o projeto implementou o Moeda Seeds como meio de pagamento, com as transações atestadas em blockchain. Assim, garantem às artesãs acesso à informação, auxílio na gestão das finanças, além de possibilitar o acesso ao microcrédito.
Ao recordar desse projeto, ficou claro que a ligação com a Taynaah vai além do fato de sermos mulheres jovens empreendendo na tecnologia, mais especificamente no blockchain.
Compartilhamos o mesmo anseio de justiça social e inclusão, principalmente de mulheres que se encontram, muitas vezes, em situação de vulnerabilidade.
Tenho certeza que esse bate papo pode inspirar muitas outras empreendedoras e empreendedores a pensar nos seus negócios para além da viabilidade econômica. Mas, incluir nas suas missões impactos socioambientais positivos.
É importante ter claro que projetos que foquem em impactos positivos não são apenas assistencialistas e filantrópicos. Há um outro campo com foco em inovação, tecnologia e, claro, sustentabilidade financeira.
Felizmente, ao conhecer Taynaah e tantos outros amigos desse ecossistema, concluo que projetos inovadores, como o da nossa entrevistada, aos poucos, vão se tornando mais numerosos. Segue a conversa com a Taynaah:
Moeda Seeds tem oito empresas
DS: Em poucas palavras, como você descreve a solução da Moeda
TR: Ao todo são oito empresas que juntas visam solucionar problemas complexos que não conseguiríamos resolver sem a educação, comercialização e acesso a crédito. A fintech é a principal base para dar a sustentabilidade, para dar acesso ao crédito acessível. Já a aceleradora, para dar o apoio e suporte a soluções, para tirar as ideias do papel. Enquanto a parte de comercialização, que também é integrada, para ajudar de forma completa, principalmente as mulheres, a conseguirem a independência.
Temos foco rural justamente por entender que as outras fintechs estão concentradas na área urbana. O portfólio de projetos inclui mulheres, agricultores e artesãos. Atualmente, também disponibilizamos a plataforma para artistas independentes. São várias soluções e linhas de crédito. Vamos criando produtos de acordo com as necessidades que vamos encontrando.
DS: Qual é o papel do blockchain para aumentar o impacto gerado na solução?
TR: A maioria dos investidores da Moeda são chineses, então, a tecnologia traz essa confiança. Transfere para a tecnologia essa confiabilidade. O blockchain garante a verificação, o poder da transparência e confiança no projeto. Para um investidor que está na China, por exemplo, é fundamental mostrar que é possível ter um retorno econômico e também de impacto positivo, que pode ser trazido para o negócio.
Com a base de dados que o blockchain gera, é possível pensar nas métricas de impactos, produzir relatórios, pegadas de carbono, informações que hoje são fundamentais para os investidores. Sem contar que a base de dados também possibilita aprimorarmos as soluções, compartilhar as informações com universidades, além de servir para estudar como ampliar o impacto da solução.
DS: Como é ser uma empreendedora jovem no mundo tech?
TR: Tem que ter muita coragem e persistência para poder enfrentar, principalmente, a parte financeira. Vir com a ideia de tokenizar uma floresta de açaí e o próprio blockchain são desafiadores, porque enfrentamos um mindset muito tradicional. Como falar que dá para fazer diferente, que dá para mudar a forma de fazer.
Muitos achavam que era apenas filantropia, que não seria possível ver um retorno. O blockchain permitiu lançar um ICO (oferta inicial de moeda) para financiar a solução, abriu portas para concretizar o projeto, porque sem a tecnologia, não teria chegado até aqui.
É um mundo ainda muito machista, sem abertura para as mulheres. É agora que os fundos estão começando a pensar e puxar iniciativas que incentivam a igualdade de gênero.
Fui muito mais reconhecida fora do país do que aqui. Quando voltei para o Brasil, depois de ter morado fora, vi que falta muito a valorização do mercado brasileiro, de quem está aqui. Lá fora, se você quebrou uma empresa, você aprendeu, aqui, não existe essa percepção sobre o erro.
“Blockchain é uma revolução da confiança”
DS: Para você, qual é a verdadeira revolução promovida pelo blockchain?
TR: Eu acredito que é a revolução da confiança. Fazer empréstimos entre pessoas, financiar projetos de forma democrática, ter acesso a investimentos, poder comprar parte dos direitos autorais do artista que você admira.
A transparência traz consciência tanto para o investidor, quanto para o consumidor. Ter toda a rastreabilidade que o blockchain proporciona nas cadeias da moda, do café, é uma forma de fazer revolução estando mais presente e mais informado, coisas que o blockchain pode auxiliar. Há também a revolução de poder tokenizar algumas indústrias, o que as deixam mais acessíveis.
DS: O que você acha que falta para o blockchain deslanchar no Brasil?
TR: Acredito que informação e educação é o que falta. No início, o primeiro contato com o blockchain foi através do bitcoin. Por ter muito a parte especulativa, muita gente acabou já se afastando da tecnologia.
A partir desse momento temos um trabalho para mostrar que blockchain não é só criptomoeda. Foi quando grandes instituições começaram a implementar soluções com blockchain que vimos o aumento da confiança na tecnologia.
Pandemia foi um incentivo no ecossistema
DS: Você acredita que a pandemia atrasa ou impulsiona esse processo?
TR: A pandemia passou a ser um incentivo para iniciar reserva de valor em criptomoedas, bitcoin, por exemplo, demonstrou uma valorização muito maior que o real.
Outro caminho que foi impulsionado durante a pandemia, foi a criação de uma plataforma NFT de música, a primeira do Brasil, como forma de gerar renda para os artistas independentes que foram extremamente afetados pela pandemia. Muita coisa virando token para permitir serem trocadas.
Acredito que outro fator que impulsionou a confiança, foi a entrada dos grandes players, por exemplo, o caso de Elon Musk (CEO e fundador da Tesla) comprar US$ 1,5 bilhão em bitcoin. Isso faz com que as pessoas passem a confiar também.
DS: O que você diria para quem está começando agora a explorar o mundo do blockchain?
TR: Ainda há muitos protocolos para estudar, tem muito campo para trabalhar em blockchain, seja saúde, seja rastreabilidade de cadeias de produção. Quem entra para esse meio se encanta, e quem entra, vê que tem ainda uma vasta carreira para seguir nessa área. A tokenização veio para ficar!
A transformação vem muito de estar aberto a experimentar, temos muitos caminhos pela frente, no Brasil temos tanta riqueza e tanta diversidade. E temos muita oportunidade de financiar pesquisa com bitcoin e construir inúmeras possibilidades que o blockchain traz para diversas carreiras.