Custo e falta de regras são gargalos para expansão de produtos financeiros em blockchain

Estrelas em ascensão no mundo de criptoativos, os instrumentos financeiros descentralizados (DeFi) ainda encontram gargalos de crescimento em questões como custos das operações, falta de regulamentação e, para alguns investidores, percepções ruins criadas por projetos que não entregaram o que prometeram. A expectativa é de que nos próximos 12 meses haja mais discussões sobre regulamentação no mundo e busca por outras plataformas blockchain para esse tipo de transação, além da Ethereum, onde se concentram hoje.

A movimentação dos projetos de DeFi acabaram afetando os valores das transações na Ethereum. Segundo o DeFi Pulse, havia US$ 7,25 bilhões (cerca de R$ 42 bilhões) alocados nesses instrumentos no início da noite de hoje (26), valor que deu um salto enorme nos últimos meses com algumas novidades no mercado.

De acordo com Bernardo Quintão, da MB Digital Assets, o custo da transação depende da complexidade do smart contract. O mais simples pode chegar a US$ 5 e os mais complexos a US$ 50.

Gasta-se US$ 100 para montar um pool de transações e na troca de um ativo por outro o gasto é de 0,3%, quando em exchanges internacionais é de 0,1% ou 0. A concorrência é desleal, disse Carlos Russo, head de investimentos da Transfero Swiss, durante o painel “DeFi: como isso impacta o mercado financeiro” que aconteceu nesta quarta-feira no Digitalks Expo2020.

“O progresso é difícil e muito da evolução vai passar pelos custos das operações, mas talvez tenhamos experiências com outras blockchains”, completou Russo, que acredita num aumento do uso de DeFi no Brasil.

Tecnologia nova cria limite

Para Bernardo Schucman, CEO da Fastblock, a tecnologia ainda é muito nova e isso é um limitador hoje. Isso impede, por exemplo, levar DeFi para o mercado financeiro, completou. A Fastblock é uma das maiores consultorias de mineração em blockchain do mundo e hoje a Marathon Patent, mineradora e listada na Nasdaq, anunciou que assinou carta de intenções para comprar a empresa até setembro.

“Estamos no início desse processo de conhecimento do que a tecnologia é capaz de fazer para DeFi ser escalável e se baixar o custo. Primeiro precisamos massificar. Precisamos fazer o bitcoin dar certo.” Segundo ele, a criptomoeda é a principal prova de conceito (PoC) da tecnologia blockchain. Embora tenha subido de valor como um rojão desde seu lançamento, ainda há discussões se a principal cripto do mercado é sustentável. E até agora, o mercado financeiro tradicional não aderiu a esse ativo.

Entrar no mercado financeiro tradicional é uma das dificuldades que nem bitcoin conseguiu ainda. Foto: Annac, Pixabay

Além de custos, a evolução deve passar por maiores preocupações com protocolos e emissões, porque parte do universo de DeFi é empréstimo, o que envolve análise de crédito, identidade e histórico de compras, por exemplo, disse Quintão. Isso dará mais segurança a quem empresta e pode dar também maior confiança para o investidor, já que muitos caíram em promessas enganosas. “Ainda vamos ver vários golpes, mas vamos ver também experimentos bons nos próximos meses”, completou.

“Com o tempo, vamos sair dos modelos de golpe e serão estruturados modelos descentralizados mais eficientes, que permitam um acesso muito melhor ao sistema financeiro”, disse Evandro Camilo, advogado especializado em blockchain da C2Law.

Mas para Courtnay Guimarães, cientista-chefe da BRQ Digital Solutions e moderador do debate, DeFis são uma bolha.

Intermediários

Embora blockchain tenha sido criada para negociações P2P (indivíduo com indivíduo, sem intermediários), a questão é se isso é possível nos DeFis. Schucman acredita que com o tempo, regras para as operações, como acontece com o bitcoin, vão eliminar a necessidade de intermediários. “Vai ser pago o que está regido no algoritmo”.

“O DeFi pode quebrar barreira entre mercados de crédito, seguros, consórcios e financiamentos. A grande magia do blockchain é trocar valor globalmente e aplicado a DeFi, pode servir a várias coisas interessantes. Mas o que se vê hoje já é interessante para a nossa bolha, como swap. Não acho que um cliente de varejo, leigo, vai usar um swap hoje, isso é uma evolução do mercado e por isso precisa de um intermediário para chegar lá de forma fácil”, afirmou Quintão.

Não conseguimos conseguimos transformar bitcoin em mainstream pela complexidade (para o leigo) e o DeFi tem uma complexidade a mais, disse Guimarães.

Um dos riscos, para Russo, está em intermediários que são responsáveis pelos tokens que financiam a operação e não têm valor intrínsico, deixando para trás o projeto mais tarde sem entregar valor. “É preciso boa governança e princípios sérios”.

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