MITO nº 1: Consome muita energia.
Provavelmente, você já escutou falar que a mineração do bitcoin consome tanta energia elétrica quanto alguns países[1]. Logo, não faria sentido utilizar uma tecnologia (blockchain) tão ineficiente energeticamente no setor elétrico.
Apesar da mineração do Bitcoin ser eletrointensiva, isso não significa que outras aplicações de blockchain compartilhem dessa característica. O alto consumo energético tem origem no mecanismo de consenso adotado pela blockchain do bitcoin, chamado Prova-de-Trabalho (Proof-of-Work, POW).
Na Prova-de-Trabalho, os computadores precisam executar um cálculo matemático difícil que exige alto poder computacional. Assim, uma das consequências é o consumo energético. No entanto, Prova-de-Trabalho não é o único mecanismo de consenso existente.
Dentre outras opções adotadas em aplicações no setor elétrico, pode-se citar, por exemplo, Prova-de-Participação (Proof-of-Stake, PoS). Além de Prova-de-Autoridade (Proof-of-Authority, PoA) e Tolerância a Falha Bizantina (Bizantine Fault Tolerance,BFT).
MITO nº 2: Preciso me envolver com criptomoedas.
Enquanto as criptomoedas utilizam tecnologia blockchain em sua base, o inverso não é verdade. Nem todas as aplicações em blockchain ou Distributed Ledger Technologies (DLT) utilizam criptomoedas no seu funcionamento.
Existem opções de aplicações sem nenhum tipo de token e outras com tokens utilitários intrínsecos, ou seja, que não são negociados em exchanges de criptos. Cita-se como exemplo de uma plataforma popular que não possui criptomoeda ou criptotoken o Hyperledger Fabric, da Fundação Linux.
Este é um ponto muito sensível e importante de ser compreendido. Isso porque organizações mais tradicionais, como as do setor elétrico, possuem preocupações com relação a operar criptomoedas. Isso desde as fraudes ocorridas durante o boom dos Initial Coin Offerings (ICOs) em 2016 e 2017.
MITO nº 3: Blockchain = Bitcoin.
Também relacionado ao mito anterior, a resposta é NÃO. Enquanto o bitcoin foi o primeiro caso que popularizou o uso da tecnologia blockchain, as aplicações no setor elétrico ao redor do mundo pouco ou nada tem a ver com bitcoin.
Em todos os cursos presenciais que lecionei sobre o tema até o momento, sempre tive algum aluno empolgado com bitcoin para me perguntar: “Vanessa, você viu o quanto subiu/caiu a cotação do bitcoin essa semana?” Minha resposta é sempre a mesma: “Não acompanho essas variações do bitcoin e no curso vou explicar porque isso importa muito pouco.”
MITO nº 4: Vai substituir distribuidoras, comercializadoras, CCEE, entre outros.
Esse mito tem origem na característica de desintermediação da tecnologia blockchain, que permite negociações peer-to-peer (P2P). Aqueles que não conhecem o setor elétrico podem erroneamente assumir que figuras como distribuidoras, comercializadoras, e a própria Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) são meros intermediários. Portanto, que serão aniquilados pela tecnologia blockchain.
É uma visão superficial das funções e atividades de tais entidades. E isso acaba sendo um detrimento nas discussões sobre a aplicação de blockchain e DLTs no setor elétrico. Isso porque pode afastar os agentes que provavelmente precisarão protagonizar a adoção desta tecnologia para torná-la uma realidade. Além de dificultar o aprofundamento para identificar os principais casos de uso.
MITO nº 5: Projetos de Blockchain custam caro
Esse mito é justificável, visto que circulam notícias na mídia de projetos de blockchain milionários. Minha experiência profissional nos últimos anos mostra que a maioria desses projetos não é concluído com sucesso e acaba não entregando o valor do investimento.
Assim, uma estratégia mais sólida é iniciar com um time interno pequeno, dedicado a explorar o crescimento da tecnologia blockchain. Isso de forma orgânica, através de POCs (Proof-of-Concept) sequenciais e validação junto às tecnologias existentes.
Um outro fator que contribui para o mito nº 5 sobre blockchain no setor de energia é o alto valor de afiliação de alguns consórcios internacionais. Em especial para países em desenvolvimento, uma vez que o câmbio do dólar ou euro pode não ser favorável.
Nesses casos, algumas empresas podem acabar se afiliando sem montar uma equipe competente previamente e, assim, não conseguem extrair valor da afiliação.
O consórcio mais popular no momento é a Energy Web Foundation, cuja plataforma chama-se EW-DOS. Dentre os tool-kits oferecidos pela organização estão o EW Origin, para certificação de energia renovável através da aquisição de i-RECs. E o EW Flex, para integração recursos energéticos distribuídos com programas de flexibilidade da demanda.
Para que a afiliação ao consórcio seja proveitosa, é importante analisar se os tool-kits fazem sentido para a estratégia da sua empresa ou do seu mercado nacional. Lembrando que você continuará precisando de uma equipe dedicada para customizar os tool-kits, visto que não vêm 100% prontos.
E você, conhece algum outro mito sobre a aplicação de tecnologia blockchain no setor elétrico? Compartilhe comigo! 🙂
[1] Bitcoin consumes ‘more electricty than Argentina’ — https://www.bbc.com/news/technology-56012952
*Vanessa H. Grunwald é estrategista de arquitetura e tecnologia da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Este artigo foi originalmente publicado no perfil da autora na plataforma Medium.