O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos, Neto, afirmou que o melhor que a instituição pode fazer em relação a finanças descentralizadas (DeFi) “é participar desse espaço de alguma forma”. Por isso, afirmou que busca acompanhar de perto os projetos de DeFi que surgem no Lift – Laboratório de Inovações Financeiras que o BC apoia.
A declaração aconteceu num webinar do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na semana passada. E é mais um sinal de que o BC estuda seriamente usar blockchain, a tecnologia por trás de DeFi, para a moeda digital do país. Dias antes, por exemplo, na coletiva de imprensa sobre o balanço de pagamentos, havia dito que “no mundo de blockchain, onde desejamos fazer o real digital”, estão sendo considerados diversos aspectos.
De acordo com Campos Neto, DeFi é “surpreendente” e leva à moeda digital de banco central (CBDC), no caso, o real digital. O presidente do BC afirmou que de cada 10 projetos que surgem no Lift, cerca de 7 são de DeFi. “Todos baseados em segmentação de intermediação”.
A maioria enfrentas questões em segmentos específicos, o que é bom, segundo ele. Isso “porque vão poder interagir com open finance”. O BC está prestes a implantar a terceira fase do open banking. E o open insurance está em processo de ser iniciado.
DeFi preocupa Banco Central pela geração de dados
Apesar das finanças descentralizadas serem ainda pouco usadas no Brasil, Campos Neto disse que “a produção de dados em DeFi é uma das coisas que mais me preocupam”, já que há muita informação originadas nas transações financeiras. E apontou que os bancos centrais do mundo, embora cooperem, não têm estrutura para atuarem juntos nessa questão.
Para implantar a CBDC, o BC está trabalhando para não comprometer o balanço dos bancos, disse Campos Neto. Um dos pontos é a questão do narrow banking, que pode ocorrer em determinados desenhos de uma CBDC.
Esse conceito é discuto há muito tempo e em termos gerais, significa uma separação de contas de depósito dos outros serviços dos bancos. Isso implica, por exemplo, no banco usar seu dinheiro, como acontece hoje, para fazer empréstimos a terceiros sem perguntar a você se está de acordo com isso, inclusive com o risco que a transação implica.
“O termo narrow banking trata da situação em que todo o recurso posto em circulação por uma instituição bancária tem 100% de lastro depositado no BC na forma de moeda ou de ativos de alta qualidade e alta liquidez. Tendo, assim, impacto sobre a capacidade de provimento de crédito dessas instituições, o que a torna indesejável do nosso ponto de vista”, disse o BC ao Blocknews.
Para resolver isso, o BC trabalha com um desenho em que os bancos emitem moedas estáveis baseadas no depósito bancário e lastreada no real digital. Portanto, as duas moedas “vivem juntas, mas não é uma stablecoin no sentido normal. É uma solução para evitar narrow banking e assim mantém as funções dos bancos como agora”.
Para ele, stablecoins lastreadas em até duas moedas não parecem um problema. Mas se forem uma espécie de cesta de moedas é como um fundo de índices (ETF). “E tem os problemas que um ETF tem”. Por exemplo, em grandes ETFs, quando começa a haver diferenças entre as stablecoins, será preciso comprar ativos para cuidar disso e garantir lucro. E isso causa disotrções. “Não vejo (nas stablecoins tipo cesta de moedas) muito potencial de crescimento.”
Na coletiva sobre o balanço de pagamentos, Campos Neto afirmou que nos estudos sobre o real digital, o BC encontrou soluções para problemas que imaginava que seria difíceis de resolver, incluindo o narrow banking. “Estamos avançando bastante e devermos ter noticias em breve”.
Além disso, o BC está estudando questões como o óraculo da CBDC. Há um “tema importante que é como comunicar o oraculo com o sistema, tendo a certeza de que o governo pode regular a informação que vai para os n´ós e a parte de liquidação”.