A indústria financeira brasileira não para de lançar novidades. No último ano o Banco Central (BC) implementou diversas inovações como o lançamento do Pix, para pagamento instantâneo P2P, oficializou a implantação do open banking, lançou as regras do sandbox e no último dia 24 de maio divulgou algumas diretrizes da moeda digital brasileira, o real digital.
Que o sistema financeiro brasileiro é um dos mais modernos do mundo, todos sabemos. Por longo tempo fomos pioneiros nos pagamentos em tempo-real (TED), ao lado so sistema financeiro francês.
Que os brasileiros são amplamente adeptos das novas tecnologias, mesmo diante das dificuldades do nível de escolaridade da população, também não é novidade.
Exatamente para melhor explorar esse perfil de fácil aceitação das novas tecnologias, o BC tem se empenhado em aderir às mais disruptivas tecnologias com foco em incrementar a bancarização.
Apesar da revolução dos bancos digitais dos últimos anos, uma pesquisa do Instituto Locomotiva de janeiro de 2021 aponta 34 milhões de brasileiros desbancarizados, ou seja, sem conta bancária ou que a usam com pouca frequência. O mesmo estudo aponta que essa parcela movimenta, por ano, cerca de R$ 347 bilhões, o que corresponde a 8% do PIB no país.
A pandemia acelerou o processo de bancarização quando o auxílio emergencial foi distribuído através de contas digitais e aumentou o dinheiro em circulação.
A pesquisa do Instituto Locomotiva mostra ainda que os 10% de brasileiros sem conta em banco são majoritariamente do interior, mulheres, jovens entre 18 e 29 anos, das classes D e E e com formação até o ensino fundamental.
Do Pix ao open banking e à moeda digital nesse cenário
E onde entram o open banking,o Pix, o sandbox e a moeda digital do BC nesse cenário?
Openbanking
O open banking permite que o cliente compartilhe seus dados com várias instituições, facilitando o processo competitivo entre as instituições financeiras. Assim, ganhamos a melhor oferta de produtos e serviços com taxas mais competitivas.
PIX
O pagamento ponto-a-ponto, instantâneo e disponível 24 horas por dia facilitou as transações de pagamentos entre pessoas físicas. Em especial os pequenos pagamentos onde as pessoas utilizavam-se de papel moeda. Com este mecanismo, reduziram-se as tarifas bancárias e a circulação de papel moeda.
Sandbox Regulatório
O sandbox é um ambiente de testes do BC para as instituições financeiras testarem modelos de negócios inovadores. Seja pelo uso de novas ferramentas tecnológicas ou pelo uso inovador de uma tecnologia já existente de forma diferenciada. Também pode ser considerado inovador se desenvolver um produto ou serviço que ainda não é oferecido no mercado de valores mobiliários.
A instituição que se propor a apresentar um modelo de negócios inovador deverá partir do pressuposto que sua solução deve promover ganhos de eficiência, redução de custos ou ampliação de acesso do público em geral a produtos e serviços do mercado financeiro. Os principais benefícios que esse ambiente traz aos participantes do sandbox regulatório são:
· Teste de um projeto inovador com clientes reais;
· Monitoramento específico pela área de supervisão do BC, agregando experiência ao participante de como é trabalhar em ambientes supervisionados;
· Contato com a área de regulação do BC, podendo fornecer subsídios a eventual nova regulamentação do sistema financeiro, especificamente na área específica do seu projeto.
Esta iniciativa dá oportunidade principalmente para que as fintechs possam testar e validar suas soluções em ambientes com maior capacidade de simulação da realidade. Portanto, isso permite que tenham soluções tão estáveis e seguras quanto as grandes instituições, que geralmente possuem infraestrutura de testes mais robusta que uma startup.
Real digital pode trazer evolução tecnológica para economia
Moeda Digital Brasileira (CBDC, na sigla em inglês).
O BC divulgou recentemente as diretrizes para a criação de uma moeda digital brasileira, emitida e garantida diretamente pela instituição. É uma extensão da moeda física, mas para uso no ambiente virtual. Para que não haja confusão de entendimento, é bom esclarecer que a CBDC não será uma criptomoeda do BC.
A diferença entre essas moedas digitais é que a CBDC tem a garantia do BCl, ou seja, possui “lastro”. Já as criptomoedas são ativos distribuídos de forma descentralizada e sem lastro.
Dentre as vantagens que a CBDC poderá trazer ao mercado financeiro estão a evolução tecnológica da economia, o ganho de maior eficiência do sistema de pagamentos de varejo e criação de novos modelos de negócios. Além de favorecimento à integração do país no cenário econômico global, aumentando a eficiência nas transações internacionais. Assim como a economia de geração de papel moeda.
Como podem notar, essas iniciativas estão interligadas para permitir um maior alcance dos serviços bancários à população de baixa renda. Isso poderá facilitar sua inclusão financeira e de certa forma, também, permitir sua inclusão digital.
*Janete Ribeiro é CEO da Analytics Data, consultoria especializada em ciência de dados e inteligência artificial, possui certificação em governança de dados pelo MIT. É embaixadora do WiDS (Women In Data Science), vinculado à Universidade de Stanford, professora de pós-graduação em Big Data & Analytics no SENAC, autora de livros sobre Pesquisa de Marketing e Inteligência de Mercado. Este artigo também está publicado no perfil da autora no Medium.