Drex e stablecoins: como questões práticas do dia a dia serão resolvidas pelas novas tecnologias?

Juliana Schlesinger Felippe, executiva da Paxos no Brasil.

O Drex, a versão digital do real anunciada pelo Banco Central (BC) e que é a nossa Moeda Digital de Banco Central (CBDC, na sigla em inglês), promete ser a próxima grande revolução no universo do sistema financeiro, parecida com aquela proporcionada pelo lançamento, em 2020, do Pix. Difícil estimar o tamanho exato dessa revolução, mas algumas das funcionalidades da nova moeda já podem ser antevistas.

Trarei, aqui, do exemplo de um problema de ordem prática que me ocorreu recentemente. Tive de realizar um pagamento ao consulado alemão para obtenção de cidadania. Uma vez realizado esse pagamento, teria de enviar um comprovante da operação ao consulado, que seria um código, uma espécie de senha alfanumérica (combinando números e letras) a ser inserida em uma área específica do aplicativo do banco no qual tenho conta.

O ponto é que simplesmente não era possível inserir esse código, já que o formato contendo letras, digamos, não estava previsto no aplicativo. Resumindo, tive de entrar em contato com o gerente da instituição financeira para que o processo fosse realizado manualmente. Uma operação que deveria ser simples, mas levou dois dias úteis para ser concluída.

Esse é um exemplo – um pouco resumido – da complexidade ainda envolvida em muitos processos de transferências internacionais. Enquanto no âmbito interno o Pix está na era do instantâneo, as transações entre países ainda vivem em uma espécie de pré-história.

Mais facilidade em pagamentos

Mas, afinal, como seria possível atacar esse tipo de situação por meio do Drex? Não precisamos ir muito longe para imaginar. Se a mesma operação acontecesse, por exemplo, por meio de uma carteira de pagamentos de uma exchange de criptomoedas ou do Google Pay, seria possível gerar um QRCode para pagamento que, por sua vez, já incluiria todas as informações relativas à transação.

Isso graças a uma característica do blockchain, os chamados smart contracts (contratos inteligentes) e à sua inerente programabilidade, atributos que estarão presentes também no Drex. Outro exemplo prático do uso da programabilidade no dia a dia: um pai poderá pagar a mesada do filho em Drex, programando esses recursos para que sejam gastos somente na cantina da escola. Bem-vindo à era do dinheiro inteligente.

Neste ponto, quero mudar um pouco o foco desta reflexão. A primeira e mais imediata aplicação do blockchain são as criptomoedas, hoje cada vez mais aceitas como meio de troca e reserva de valor, funções primárias de qualquer moeda. O ponto, no entanto, é que ainda hoje a cotação desses ativos é bastante volátil. Elas vieram para ficar, mas possuem essa característica.

Drex vai estimular stablecoins

Chegamos, então, às chamadas stablecoins (moedas estáveis), essas atreladas a ativos, digamos, mais “físicos”, como o ouro ou o dólar, como por exemplo a Paxgold (PAXG) e a PayPal USD (PYUSD), essa última desenvolvida pela Paxos em parceria com a PayPal. Elas resolvem a questão das oscilações de mercado, trazendo estabilidade para o investidor/usuário que busca mais previsibilidade.

Vamos, então, a uma última reflexão que temos acompanhado no mercado: afinal as CBDC vão “matar” as stablecoins?

A resposta é não. Aliás, pelo contrário, devem estimulá-las. Sabemos que o mercado de câmbio é extremamente representativo do ponto de vista de volumes transacionados. Mas, como mencionamos, quando vamos ao varejo, as operações de transferências, conhecida no inglês pelo termo remittances, são, em geral, complexas, demoradas e caras.

As CBDCs, como o nosso DREX, criam, para o dinheiro físico – no caso, o real -, um novo formato, colocando-o no mesmo universo das stablecoins, permitindo transações, suponhamos, de Drex para PAXG ou PYUSD ou no sentido contrário. A tecnologia bancária vai oferecer essa interoperabilidade. Colocando um paralelo com os sistemas operacionais de celulares, hoje as tecnologias iOS e Android se conversam normalmente. É o que acreditamos que ocorrerá com CBDCs e stablecoins.

Um universo que, claro, ainda tem muito que se desenvolver. Mas que certamente criará formas mais inclusivas de transacionar recursos.

*Juliana Schlesinger Felippe é Diretora de Parcerias Corporativas da Paxos no Brasil.

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