“Não se enganem, as moedas estáveis (stablecoins) globais, plataformas DeFi (finanças descentralizadas) e as grandes empresas de tecnologia vão desafiar os modelos dos bancos”. Quem disse isso foi Benoît Cœuré, líder do Hub de Inovação do BIS, o Banco de Compensações Internacionais, também conhecido como o banco central dos bancos centrais.
Num discurso nesta sexta-feira (10) num fórum da Eurofi, associação de debates sobre questões financeiras da Europa, Cœuré disse que os bancos centrais (BCs) veem suas moedas digitais, as CBDCs, como uma resposta a esse cenário.
“O tempo já passou para os BCs começarem (a estudar CBDCs) . “Deveríamos levantar as mangas e acelerar nossos trabalhos no minucioso design da CBDC. O lançamento das CBDCs levará anos, enquanto as stablecoins e os criptoativos já estão aqui. Isso torna (o assunto) ainda mais urgente”, completou Cœuré.
Brasil estuda CBDC e testes devem começar em 2022
O Brasil é um dos países que já estuda o assunto e poderá ter uma moeda por volta de 2024. Assim como em outras ocasiões, na ultima quinta-feira (9) o presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicou vantagens das CBDCs para bancos. Uma delas é que esse poderão emitir depósitos com base em seus próprios depósitos em CBDC. Assim, poderão acessar dinheiro programável e trabalhar com contratos inteligentes.
“Os bancos poderão ter autorização para tokenizar depósitos que serão usados em nova plataforma de intermediação, com a CBDC’, diz sua apresentação sobre o tema na Casa das Garças. O cronograma do BC prevê prova de conceito e um laboratório de inovação em 2022, pitos em 2023 e tomadas de decisões em 2024.
Bancos Centrais devem escutar o que consumidores querem de CBDCs
Até pouco tempo atrás, o BIS falava de CBDCs como uma possibilidade que os países deveriam estudar. Agora, deixa claro que serão necessárias. E como não poderia deixar de ser, defende que a emissão de moedas digitais seja prerrogativa dos BCs porque são instituições de “confiança e que prestam contas”. Além disso, não se movem por lucro para elas mesmas, mas por políticas públicas.
De acordo com o representante do BIS, as CBDCs permitirão uma arquitetura financeira com integração. E ao mesmo tempo, permitirão competição e inovação. Assim como preservar o que chama de controle democrático da moeda.
Segundo ele, as moedas digitais de BCs devem responder a preocupações dos consumidores, como privacidade e segurança. Além disso, funções digitais que não estão disponíveis podem ser desenvolvidas, por exemplo, dinheiro programável e micro pagamentos.
Uma questão importante sobre as CBDCs, completou, é se deve haver limitações para operações offshore. “A tecnologia abre possibilidades de design e o sistema será complexo.” Assim, essas moedas precisam ter características como serem fáceis de usar, terem custo baixo, serem conversíveis, terem compensações instantâneas e estarem disponíveis todo o tempo.
O BIS tem em curso seis provas de conceito de CBDCs e protótipos e esse número vai crescer, afirmou. Isso inclui projetos com países da Ásia.