Ripio Select: clientes institucionais são os que mais crescem

Bernardo (esq.), Matías (centro) e Henrique (dir.). Foto: Esenca.

A Ripio Select, de clientes de institucionais e de pessoas físicas de alta renda, é o que mais cresce dentro do negócio da empresa fundada na Argentina e que concentra seus negócios na América Latina. Dois dos motivos que aceleram esse crescimento são o uso de stablecoins para reduzir custos de operações transfronteiriças e a para proteção contra inflação. Tanto que as criptos com lastro em dólar – basicamente a USDC e a USDT – representam 90% das operações globais do serviço, segundo Matías Dajcz, vice-presidente do serviço de mercado de balcão (OTC).

Embora concentre seus negócios na América Latina, a Ripio empresa também está operando a partir da Flórida (EUA), onde recebeu permissão do regulador local. É a única empresa latino-americana do setor que tem essa autorização.

A licença vale para bitcoin, ether e as stablecoins em dólar da Circle (USDC) e da Tether (USDT), disse Bernadro Teixeira, COO da Ripio. A ideia é fazer a ponte entre clientes americanos e não-americanos da Florida e da América Latina.

De acordo com Dajcz, no total, a Ripio movimenta hoje cerca de US$ 100 milhões. Disso, a Ripio Select responde por em torno de cerca de 45%. O serviço está na Argentina, que representa em torno de 70%, nos EUA, no Brasil (com em torno de 10%) e chegou em abril passado no Uruguai. Os executivos participaram do Modular, evento sobre uso de criptos da Ripio e parceiros que acontece hoje (22) em Buenos Aires.

Brasil é terceiro maior mercado do Ripio Select

Com a alta inflação e a restrição para compra de dólar oficial na Argentina, a forma que muitos encontram para manter o poder de compra são as stablecoins. Há inclusive funcionários e prestadores de serviços que preferem pagamentos em stablecoins. Portanto, isso acaba puxando a demanda de empresas por essas moedas digitais.

O vice-presidente da Ripio Select afirma que a crise de bancos nos EUA também está ajudando a trazer clientes para a plataforma no país. Um estudo da Social Science Research Network mostrou, divulgado em março passado, mostrou que 186 bancos norte-americanos com ativos de US$ 300 bilhões têm potencial risco de quebrar se houver corrida para saques. Assim, há quem busque stablecoins e outras instituições para colocar seus recursos.

Além disso, o mercado norte-americano está complicado para criptomoedas e serviços que os reguladores entendem serem valores mobiliários. Por isso, empresas como Binance e Coinbase reclamam bastante, já que a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) está processando as duas exchanges, acusando de atuarem na área sem licença.

Day trade x proteção de valor

Por isso, a Ripio Select, que tem clientes latino-americanos, além de operar com outras criptos, diz que esse cenário a beneficia. “É um contexto particular”, completa o vice-presidente.

De qualquer forma, o foco da Ripio continua sendo a América Latina, “que é um mercado que a gente conhece” diz o COO. Teixeira veio da exchange BitcoinTrade, que a Ripio comprou em 2021. Nesta semana, a operação passou a se chamar Ripio Trade e agora chega à Argentina.

Uma das diferenças entre os mercados do Brasil e da Argentina é que no nosso há mais day trade, investidores querendo fazer dinheiro comprando e vendendo criptomoedas conforme o sobe e desce das cotações. Na Argentina há isso com stablecoins, mas o maior uso é mesmo de pagamentos.

A empresa tem um escritório na Espanha, mas afirma que por enquanto não pensa em expandir. Na condição atual do mercado, em meio a um inverno cripto, o custo de aquisição de clientes é alto e não compensa, afirma o COO.

Acordo de longo prazo com Mercado Livre

Uma outra decisão foi desligar o serviço próprio de earnings, ou de ganhos com criptos. A Ripio tinha acordos com empresas como Gemini. Segundo Dajcz, a área de risco da empresa viu risco elevado e a estratégia mudou com as crises que aconteceram em 2022. Assim, o que faz hoje é permitir a conexão de seu cliente direto com plataformas de finanças descentralizadas (DeFi).

Apesar de o Ripio Select crescer mais em volume do que o varejo, a empresa diz que continua acreditando nesse segmento. E para isso, uma das estratégias é fazer parcerias. Uma delas é com o Mercado Livre, para quem forneceu a infraestrutura para sua utility coin, a Mercado Coin.

“É um acordo de longo prazo para construir uma utility coin para o maior grupo de varejo da América Latina”, diz Bernardo Teixeira. Por enquanto, a cripto vale para cashback e compra de mercadorias no Mercado Livre. Mas, no futuro, deverá haver a possibilidade de saque.

As duas empresas são argentinas e a integração começou pelas carteiras. Isso permitiu, por exemplo, transferir valor da Ripio para uma compra no Mercado Livre. O fundador da plataforma de e-commerce, Marcos Galperin, investiu como pessoa física na Ripio.

Um outro acordo é com a Circle para cashback em USDC, sua moeda lastreada em dólar, para quem usar o cartão na Argentina, por exemplo.

*A jornalista viajou para a Modular a convite da Ripio.

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