O lançamento da plataforma blockchain que conectará a resseguradora IRB Brasil Re, a B3 e outras corretoras de seguros deve entrar em operação no segundo semestre deste ano. O projeto está sendo desenvolvido a partir de produtos específicos, portanto, “neste primeiro momento estamos priorizando a linha de grandes riscos. Depois vamos passar para a linha vida e previdência. Dentro dessas linhas de produtos a ideia é passar por todo o processo transacional, seja de troca de informação e também de liquidação”, “, afirmou Marcelo Hirata, CIO do IRB, durante o painel “Blockchain reinventando os processos financeiros”, parte do evento virtual “Blockchain Finance Brazil 2022”, organizado pelo Blocknews e Cantarino Brasileiro, no último dia (7).
Também participaram do painel George Marcel Smentana, especialista em pesquisa e inovação do Bradesco, e Gustavo Paro, country manager da R3, provedora da solução Corda – que é, inclusive, a adotada pelo projeto do IRB com a B3. O Blockchain FInance Brazil 2022 será uma série de discussões ao longo do ano sobre o uso da tecnologia em finanças, tanto nas convencionais, como na de criptoativos.
Smetana chamou a atenção para o fato de que a adoção de blockchain por instituições financeiras precisam não apenas da decisão interna. “O cliente tem que querer”, afirmou. Isso porque testes ou usos em produção envolvem operações com valores e documentos dos clientes. Por isso, segundo ele, esse é o elemento fundamental para que uma tecnologia disruptiva como o blockchain seja cada vez mais adotada e evolua de forma eficiente como solução em operações financeiras envolvendo diferentes atores, como é o caso aqui. Tempo, capacidade de aglutinar diferentes olhares e incansáveis testes fazem parte dessa jornada que está apenas em estágio inicial de evolução, completou.
A parceria entre o IRB-Brasil Resseguros e a B3, foi anunciada em 2020 e tinha previsto início de operação no segundo semestre de 2021. Mas, seguradoras querem segurança, e para isso, foi preciso mais tempo no projeto. “Estamos trabalhando conjuntamente para desenvolver uma solução de integração entre nós, a B3 e as seguradoras que possam fazer parte desse ecossistema a fim de agilizar as trocas dentro dos pilares de segurança, privacidade de dados, transparência e consenso entre as partes envolvidas”, afirmou Marcelo Hirata.
Marco Polo e Contour
Gustavo Paro, responsável pela R3 no Brasil, disse que há soluções usando Corda em diversas indústrias, mas o grande foco está em infraestrutura para o mercado financeiro. O foco está em trazer mais eficiência em processos de negócios que já existem. A ideia é reduzir riscos, tempo de liquidação e aportar mais confiança e fluidez nesses processos, completou. E chamou a atenção para o fato de muitas instituições financeiras estarem testando ou usando blockchain mais do que se sabe publicamente.
Um desses exemplos é o do norte-americano Wells Fargo, que tem o Fargo Digital Cash, um token que roda em sua rede privada para liquidações internas. “Mas, o banco tem mais de 10 processos internos rodando em blockchain para trazer mais eficiência. A maioria dos bancos tem mandato de melhoria de eficiência e buscam inovação e tecnologia”, completou Paro.
A solução Corda já foi testada em mais de 400 usos de caso, segundo ele, e um deles é o da rede Marco Polo, solução que conecta integrantes de uma cadeia de suprimentos internacional. O projeto começou a ser desenvolvido em 2019 e o Bradesco é um dos membros. O banco avalia também entrar na Contour, com foco em financiamento de comércio exterior, que foi lançado em 2018 em Singapura e opera comercialmente desde o início de 2020.
Segundo Gustavo Paro, num projeto como o Marco Polo, em torno de um terço do tempo é dedicado à parte tecnológica, os demais dois terços do tempo são dedicados à definição de toda a governança. “Esse é o grande ponto num projeto de blockchain enterprise: Juntar grandes participantes da cadeia para que todos discutam e concordem nas regras de negócios, com o fluxo a ser seguido, não é nada simples”.
De acordo com Smetana, para entender os usos de blockchain é preciso pensar em três focos distintos: o primeiro são problemas universais da indústria globalmente; o segundo são os problemas da indústria doméstica; e o terceira são os problemas internos de cada organização.
“No caso de soluções internacionais é mais fácil você encontrar produtos de prateleira. Para problemas domésticos, você não vai encontrar produtos de prateleira e cada país terá seus próprios requisitos. Daí, quando vc não tem uma coisa pronta e tem que sair do zero para construir a rede, isso dá trabalho, leva tempo, envolve a parte jurídica. Não é fácil, e é por isso que não há tantos casos de uso em produção no mercado brasileiro”, afirmou o especialista em pesquisa e inovação do Bradesco.