Queda de juros anima empréstimos P2P

P2P é sistema de criptomoedas.

Empréstimos P2P (peer to peer, de parte a parte) sob regulação do Banco Central, portanto não considerando protocolos de criptomoedas, estiveram em stand by nos últimos anos no Brasil. Os juros altos inibiram investidores de correr o risco de emprestar para outras pessoas e empresas pequenas. Mas, a perspectiva de queda das taxas começa a reanimar o negócio, movimentando players como PicPay e EntrePay, essa última do grupo Entre Investimentos.

Na quarta-feira passada (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic, a taxa básica de juros da economia, em 0,50 ponto percentual, de 13,75% ao ano, para 13,25% ao ano. Para tomadores, as condições do P2P são mais favoráveis do que empréstimos bancários; para investidores, acena com ganhos acima do CDI e risco menor do que a bolsa.

Não existem dados precisos sobre o P2P brasileiro sob regulação, mas a estimativa é de que hoje está em cerca de R$ 3 bilhões, com apenas 12 empresas autorizadas. Com o real tokenizado, aquele que os bancos vão emitir, é possível que haverá mais integração desse universo com as criptos. Uma das startups que usam stablecoin em empréstimos hoje é a Credix.

Recentemente, o PicPay anunciou uma nova opção de investimento em seu portfólio, a mineradora do grupo J&F, e a EntrePay comprou o controle da Wise Money, que passa a se chamar Wealth Money, por R$ 10 milhões. Em março, o cofundador da Inco, Daniel Miari revelou para o site parceiro Finsiders que esperava terminar este ano com R$ 300 milhões em novas ofertas, como noticiou o Fintechs Brasil, site parceiro de conteúdo do Blocknews.

Queda de juros beneficia P2P

“A queda dos juros deve beneficiar as fintechs como um todo”, acredita João Bezerra Leite, investidor anjo da Bossanova Investimentos. “Vejo um movimento de algumas plataformas para agregar soluções P2P em seus portfólios”, diz o consultor especializado em fintechs Bruno Diniz, que considera o mercado mais maduro hoje. Para Leite, porém, ainda restam problemas de confiança a serem endereçados, principalmente no caso das plataformas que não têm um banco por trás.

PicPay começou com o P2P entre pessoas físicas e entrou na ponta de empresas em novembro do ano passado. Seis meses depois, o negócio batia a marca de R$ 50 milhões de volume captado e mais de 60 mil investidores. De acordo com a empresa, o retorno bruto é a partir de 16% ao ano, equivalente a 117% do CDI – prazo, taxa de retorno e risco variam de acordo com o contrato.

Além da mineradora, o portfólio do P2P do PicPay oferece participações na JBS, Flora, J&F Investimentos e Âmbar Energia, “todas atualmente com baixíssimo risco”, segundo a fintech. “Todas as empresas passam por análise de crédito e, antes de adquirir a cota, o investidor terá acesso a um documento com informações sobre a saúde financeira da companhia e o risco da operação.” O acréscimo da mineradora na lista foi cimunicado por email aos clientes.

“O P2P Lending para empresas funciona como um produto de entrada para pessoa física, com retorno que não se encontra em outras opções de renda fixa dentro dos prazos que oferecemos, com investimento em companhias de grande porte que oferecem risco baixíssimo”, afirma Patricia Whitaker, executiva de investimentos do PicPay.

Risco e retorno

Já a Wise Money é uma plataforma de P2P que oferece empréstimos para empresas com garantia de recebíveis de cartão de crédito. Quando os comerciantes parcelam uma venda em uma maquininha de cartão da Entrepay, têm a opção de receber o valor da compra antecipadamente, pagando uma taxa por isso.

Esse pedido de antecipação é transformado em uma oportunidade para investidores da plataforma que passam a receber, com juros, as parcelas. Neste caso, os pagamentos são de responsabilidade dos bancos que emitiram o cartão. Assim, é diferente do que ocorre em investimentos P2P convencionais.

Em nota, a EntrePay diz que a aquisição abre a possibilidade de oferecer aos clientes que utilizam suas maquininhas mais uma opção de crédito. Além disso, pode oferecer a criação de fundo de investimento em direitos creditórios (FIDCs) baseados em recebíveis de cartão de crédito.

“A Wealth Money, com os empréstimos P2P, reforça a rede e os clientes da EntrePay”, de acordo com Antonio Freixo, sócio da Entre Investimentos. O plano é acelerar a expansão em 2023, multiplicando por dez o volume transacionado em sua plataforma, de R$ 12 milhões em empréstimos em dois anos.

Marco regulatório

O P2P surgiu no Brasil em 2016, mas as plataformas dependiam de uma instituição financeira parceira para operar. Em 2018, o Banco Central criou a figura das sociedades de empréstimos entre pessoas (SEP), que passaram a poder operar sem banco.

Dessa forma, o BC buscou incentivar o aparecimento de opções com juros, prazos e valores melhores. Além de serem formas simples de contratar pelos tomadores (empresas ou pessoas). Na outra ponta da negociação, o investidor tem mais uma opção de diversificar o portfólio com uma rentabilidade atraente.

Apesar de haver 12 empresas autorizadas a fazerem P2P no Brasil, muitas fintechs ainda atuam como correspondentes bancários de bancos e das 12 SEPs. Entre elas estão EmCashBullla e Inco. O PicPay é correspondente bancário da CredNovo ,que é do mesmo conglomerado, e Mova. A Serasa Experian anunciou na sexta-feira passada que comprou uma fatia majoritária da Mova. Enquanto a Wealth Money é correspondente do BMP Money Plus.

Segundo relatório da Precedence Research, o mercado global foi avaliado em US$ 83,8 bilhões em 2021. A projeção é chegar a US$ 706 bilhões em 2030. 

Opção para pequenas empresas

Embora algumas plataformas sirvam apenas para juntar pessoas que precisam de dinheiro com pessoas que têm para emprestar, o negócio é particularmente interessante para pequenas empresas levantarem recursos. Em especial para as que ficam fora do eixo Rio-SP, como as atendidas pelo IcaBank, correspondente bancário da Acesso (do grupo Méliuz).

Estudo divulgado em junho pelo BC mostra que, de fato, essas empresas vem conseguindo crédito mais barato nos bancos depois que levantam dinheiro por P2P. O Estudo Fintechs de empréstimos P2P: características e aspectos competitivos está no Box 5 do Relatório de Economia Bancária.

A comparação foi feita com empréstimos bancários sem garantia – de capital de giro. “Empresas menores, mais jovens e mais arriscadas, com funcionários mais jovens, com maior escolaridade formal e com atividades econômicas relacionadas a serviços profissionais e tecnologia que tomam empréstimos de P2Ps costumavam pagar taxas 1,3 p.p. mais altas com os credores tradicionais, antes de seu primeiro empréstimo P2P. No entanto, essas empresas conseguem encontrar uma taxa 1,4 p.p. menor após o primeiro empréstimo P2P”, diz o estudo. Além disso, concluiu que os credores P2P oferecem taxas ajustadas de risco 4 p.p. mais baixas do que os credores tradicionais.

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