Os fundos que têm criptomoedas em seus portfólios esperam que a queda de juros e investidores buscando alternativas mais rentáveis ajudem a acelerar o crescimento desse segmento, que ainda está nos seus primórdios. Estima-se que em 2019, estavam sob gestão dos fundos multimercados de criptoativos em todo o mundo o valor de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 6 bilhões).
Neste ano, os fundos dizem que viram mais interesse de investidores, sem darem números sobre novos clientes ou valores sob gestão. Foram atraídos por rentabilidade que já atingiram três dígitos. Segundo a Hashdex, neste ano, seus fundos tiveram rendimentos brutos de 22,11%, 46,18% e 125,02%, conforme o percentual alocado em criptos – 20%, 40% e 10%, respectivamente.
Os juros podem ajudar na expansão do mercado, mas não vão resolver tudo. O caminho para uma adoção mais ampla desses fundos, que inclua investidores institucionais em larga escala, por exemplo, passa também por questões como conhecimento e formatos de custódia, afirmaram, ontem (26), gestores durante painel no Digitalks Expo2020.
Mais segurança
No painel “Digital Assets & Fundos de Investimento Crypto”, Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex, afirmou que quando se fala em custódia, é preciso pensar também em clearing – liquidação das operações de compra e venda -, para que haja dinamismo sem se perder a segurança.
A empresa fechou em junho um acordo com o braço de ativos digitais da Fidelity, que vai fazer sua custódia e negociação de ativos. A custodiante é parte da Fidelity Investments, que tem US$ 8,3 trilhões (cerca de R$ 50 trilhões) sob custódia e hoje (27) entrou com pedido na Securities Exchange Commission (SEC, a CVM dos Estados Unidos) para lançar um fundo de bitcoin.
A adoção dos fundos por investidores institucionais precisa agrupar três fatores: regulação, educação para maior conhecimento dos produtos e infraestrutura, o que inclui custódias, disse Fernando Carvalho, CEO da QR Capital, para quem a custódia é parte fundamental do segmento cripto e uma vantagem em fundos regulados.
“A infraestrutura é o que mais evolui e hoje é maior do que há cinco anos. Isso vai permitir que produtos institucionais nasçam e que o capital de investidores institucionais seja atraído para essa classe de ativos”, completou.
Em julho passado, o Escritório do Controlador da Moeda dos Estados Unidos (OCC, na sigla em inglês) confirmou que os bancos nacionais e as associações federais de poupança (FSAs) podem fazer custódia de criptomoedas para seus clientes, o que, acredita-se, pode ajudar a expandir o mercado.
Descentralizado ou tradicional?
Questionados pelo moderador e organizador do Digitalks, Rubens Neistein, se custódia e clearance não colocariam o segmento de cripto mais distante da descentralização e mais próximo do mercado tradicional, Daniel Coquieri, fundador da corretora BitcoinTrade, disse que as pessoas não estão preparadas para fazerem custódia.
“Não é o que as pessoas estão buscando, tanto que 90% da nossa custódia está parada”. Embora não seja o negócio da corretora, a empresa presta esse serviço, o que gera necessidade de muito investimento em segurança.
Além de investidores institucionais, os fundos de criptos também têm o público fora do grupo da geração do milênio para ser atraído. Na Charles Schwab, empresa de investimentos na qual a XP Investimentos se inspirou, os milleniums têm 1,8%, 2% da carteira de aposentaria em criptomoedas, afirmou Rudá Pellini, da gestora de ativos Wise&Trust.
“Mas os ‘baby boomers’ (geração que nasceu no pós-II guerra), não têm criptos. É uma situação geracional, de educação, eles precisam entender que tem gente séria nessa área e não há só golpe.”
Segundo Coquiere, o desconhecimento ainda é um obstáculo para o investimento dar o próximo passo. Isso vem diminuindo e o papel de quem atua no setor é ajudar a infomação a chegar nos investidores.