Enquanto bancos centrais estudam suas moedas, criptos “são caminho sem volta”

Fundador e CEO global da Bitso se mudou para o Brasil.

O mundo tem em estudo 64 modalidades de implementação de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs). É o que apurou o grupo de trabalho sobre essas moedas da R3, segundo Keiji Sakai, responsável pela empresa no Brasil.

O real digital é uma das CBDCs em estudo. E “será relevante para novos modelos de negócios”, de acordo com Aristides Cavalcante, chefe-adjunto do departamento de tecnologia da informação do BC.

Enquanto o BC vê potenciais benefícios com as CBDCs, se preocupa com pessoas que compram criptomoedas “pensando em retorno rápido”, disse Cavalcante.

Segundo ele, quem compra cripto está sujeito, por exemplo, a problemas dos mineradores da moeda na China, como têm acontecido, e “ao coração partido de Elon Musk”. O representante do BC se referiu ao emoji do fundador da Tesla no início de junho, relacionando a figura a bitcoin.

Keiji e Cavalcante participaram, hoje (24), do painel “CBDCs, NFTs e stablecoins: qual o impacto dos ativos digitais no mercado” do Ciab 2021 da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Na quarta-feira (23), em reunião fechada com o conselho da Febraban, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que criptoativos exigem cautela pelo público. Isso porque são arriscados e não regulados.

Moedas de bancos centrais trarão novo modelo de negócios, diz BC

No entanto, durante o painel desta quinta-feira, alguns participantes concordaram que criptoativos vão crescer. De acordo com André Portilho, sócio do BTG Pactual, o banco vê convergência do sistema financeiro tradicional e dos criptoativos.

“Tem que interagir. Não adianta só estudar.”, afirmou. E disse que a instrução para a equipe do BTG é “não se apaixonar pela tecnologia. Mas pelo que pode trazer em produtos, serviços e de novo na forma como fazemos as coisas”.

A B3 também está atenta aos criptoativos, já que estão cada vez mais mainstream, disse Luís Kondic, diretor de Produtos Listados e Dados da bolsa.

“As instituições estão reagindo à demanda de clientes e nós também à potencial consolidação de criptoativos como nova classe de ativos”, afirmou no painel.

A bolsa também acompanha, por exemplo, o movimento da Bolsa de Valores da Austrália (ASX). A instituição está testando o uso de blockchain no seu sistema de liquidação. Mas adiou o lançamento para 2023.

“Estamos acompanhando para ver como integrar blockchain na nossa operação. É inegável o crescimento do mercado e é fundamental entender as possibilidades, características e buscar oportunidades”, acrescentou Kondi.

A B3 é uma das poucas bolsas do mundo que tem fundos de índices relacionados a criptomoedas. Desde ontem, são dois: um da Hashdex e outro da QR Capital.

Segundo Sakai, “há uma procura global das grandes casas financeiras, inclusive no Brasil, para que falemos mais sobre como se posicionar e as tendências sobre criptoativos”. “É caminho sem volta.”. Isso apesar da volatilidade, que pode ser uma oportunidade, completou.

Volatilidade é típico de novas tecnologias, diz sócio do BTG

Portilho afirmou que volatilidade e formação de bolhas são comuns com novas tecnologias. E lembrou as negociações de ações da Telebrás na década de 90.

Quando a nova tecnologia se soma a um movimento macroeconômico de expansão monetária, como aconteceu com os programas de auxílio dos governos durante a pandemia, “a chance de ter bolhas é grande”, afirmou.

No entanto, Portilho disse que 25% da ações da Nasdaq são mais voláteis do que bitcoin. Por exemplo, as de empresas de biotecnologia. “É assimétrico, tem oportunidade e tem risco. E é uma evolução, não tem jeito.”

Para Portilho, é preciso “entender que a partir do momento que digitaliza e descentraliza, é impossível tentar adivinhar para onde vai a tecnologia”. Quem usou internet discada, não imaginou o mundo de hoje e muito desse caminho vai acontecer na indústria financeira, completou.

A questão é como fazer essa mudança com segurança e com um arcabouço regulatório que não coíba inovação, de acordo com Portilho. “Vamos ver muito desafio regulatório daqui para frente. As jurisdições físicas estão sendo contestadas.”

No entanto, acrescentou, “o caminho parece muito promissor, embora não linear. A gente está muito animado, botando a mão na massa, trabalhando e interagindo”.

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