Brasileiros fazem mais de 50% das transações com criptomoedas fora do país, diz BC

BC defende suitability. Imagem: Art Rachen, Unsplash.

O percentual de transações de brasileiros em plataformas de criptomoedas que não estão no Brasil é de cerca de 50% a 60% do total, estima o Banco Central. É menos dos que os 70% a 75% estimados no mundo. Ainda assim “é muito alto” e a regulação do setor “não deverá zerar esse percentual”, afirmou Antonio Marcos Guimarães, consultor no Departamento de Regulação do Sistema Financeiro da instituição, durante o Febraban Tech 2023, que terminou hoje (29).

A estimativa do BC é com base em cruzamento de bases de dados do governo e das empresas. A global é do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgada há alguns meses.

O fato de transações com criptomoedas serem online e globais dificulta o controle do segmento. Por isso, nem a regulação do país vai zerar o percentual de 50% a 60%. Essa característica online e global do setor também facilita a vida de quem quer atuar fora da regulação ou em locais onde é mais branda.

Assim, a criação de marcos regulatórios no mundo, como o Brasil está fazendo, pode ter impacto sobre a arbitragem regulatória. Isso acontece quando o investidor movimenta o dinheiro de e para mercados que tenham cenários regulatórios que consideram mais convenientes.

Ativos adequados a brasileiros

Guimarães afirmou ainda que é preciso analisar o perfil do investidor (suitability) para se oferecer um ativo digital. Criptomoedas são, por natureza, investimentos de alto risco. Criptoativos com lastro em títulos financeiros, por exemplo, podem ter o mesmo ou outro nível de risco. Quanto mais tokens o mercado criar, mais diferenças haverá entre eles.

Também durante o Febraban Tech, Fabio Araujo, coordenador do projeto do Real Digital no BC, citou o caso de um jovem que estava interessado em investir em derivativos no mercado tradicional. Ficou sabendo do caminho que envolve várias etapas e diferentes instituições. Acabou investindo em criptomoedas e criou uma conta na carteira digital MetaMask.

“Isso tem um componente ruim”, afirmou, que é alguém comprar criptomoedas e até derivativos delas sem entender bem do que se tratam. “Tem que resolver a questão da suitability e isso só pode ser feito com educação financeira”, completou Araujo. Para Accioly “finanças são finanças”, portanto livros sobre o assunto, inclusive “um livro de 1920” ajudam a educar os investidores sobre o uso do dinheiro.

Transações com criptomoedas: “choque”

Há um “choque quando se vê mais gente em criptomoedas do que no mercado financeiro tradicional porque é mais fácil”, disse João Accioly, diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no painel com Guimarães. Estudos apontam que há em torno de 14 milhões a 16 milhões de investidores em criptos no Brasil. Na bolsa B3, o número de pessoas físicas chegou a 5 milhões no final de 2022.

Felipe Andreu, sócio associado e da área Jurídica do BTG Pactual, afirmou que a stablecoin BTG Dol, a primeira com lastro em dólar de um banco no mundo, funciona como acesso dos clientes às criptomoedas. A cripto tem paridade de US$ 1 por 1 BTG Dol e está na plataforma de criptos do banco, a Mynt. “A partir daí, o cliente pode comprar outros ativos”. E ainda fazer a ponte com o real digital depois.

O executivo disse ainda que a Mynt tem uma “licença poética” para oferecer ativos sem viés financeiro, como tokens relacionados a times de futebol. “Isso pode interessar aos clientes, embora possa não interessar aos bancos”. E completou que é natural que criptomoedas tenham risco que não existem no mercado tradicional. “Mas, o saldo é positivo”.

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