Bancos devem ter foco em orquestrar diversas áreas em seus projetos de cripto, diz consultoria Capco

Bancos começam a adotar blockchain. Foto: Ricardo Gomez Angel, Unsplash.

Antes avessos às criptomoedas, bancos do mundo todo, inclusive no Brasil, estão entrando ou avaliando atuar com moedas digitais, em especial com criptoativos que representam ativos como títulos de dívida e ações. Embora as instituições financeiras têm a tendência de tratar projetos nessa área como uma ação clássica de mudança e tentam calcular retornos e benefícios, a implementação precisa ter um foco grande na orquestração de diversas áreas, com as de negócios e tecnologia sendo cruciais na definição dos casos de uso viáveis. Isso porque o segmento ainda é muito novo e muda com frequência, afirma a Capco, consultoria global de gestão e tecnologia financeira que integra o Grupo Wipro, num estudo que acaba de lançar.

Em Desmistificando a Adoção da Implementação de Cripto e de Ativos Digitais e os Riscos para os Bancos”, especialistas da Capco indicam quatro caminhos para os bancos superarem desafios emprojetos com criptoativos. “Olhando à frente, vislumbramos uma clara oportunidade para os bancos regulados assumirem a propriedade e a liderança neste espaço, alavancando suas cadeias de valor, escala, atividades regulamentadas, status de confiáveis e governança forte”, afirma Alexandre Bueno, gerente sênior da Capco e head do Capco Digital Lab São Paulo.

Para Bueno, “esse mercado está crescendo rapidamente e inovando continuamente, mas os projetos de criptomoedas e ativos digitais de instituições financeiras tradicionais só irão decolar quando se estabelecer uma compreensão profunda dos riscos inerentes a esses produtos”.

Os bancos tradicionais precisarão alavancar seus portfolios de criptoativos com base em uma sólida gestão de riscos e serviços personalizados para sanar as necessidades do cliente. Mas, ao mesmo tempo, mantendo o foco em seu roteiro estratégico. “O crescente ecossistema fintech B2B é a principal porta de entrada para facilitar as ambições do setor bancário de aproveitar as oportunidades de criptomoedas e ativos digitais”, completa o executivo da Capco.

De acordo com Bueno, os participantes do ecossistema estão bem-posicionados para apoiar os bancos nessa transformação e na implementação de soluções para que conquistem uma fatia significativa do mercado. Por outro lado, os bancos precisam ficar atentos ao fato de que a entrada em vigor de regulações como a Lei 14.478/22, que o Congresso brasileiro aprovou no final do ano passado e que entra em vigor em 20 de junho próximo, devem aumentar a concorrência no segmento. A lei trata da regulação das empresas fornecedoras de serviços ligados a criptoativos. Já as regras detalhadas devem começar a ser divulgadas nos próximos meses.

Os principais desafios para os bancos para implantação de ativos digitais e os caminhos para superá-los, segundo a Capco, são:

1) Roadmap para projetos de novos negócios

A implantação de projetos de criptoativos deve acontecer dentro de uma complexidade multifacetada, com uma estratégia de roteiro que possa ser aplicada em casos de usos viáveis, diz a consultoria. Isso porque esse ainda é um setor relativamente imaturo e em constante mudança, que pode não trazer resultados imediatos e óbvios para as instituições financeiras.

Após a quebra da FTX, a preocupação de garantir a confiança dos usuários passou a ser primordial, juntamente com investimento em governança e transparência nas atividades. Em projetos do tipo na Suíça e Liechtenstein, por exemplo, bancos regionais foram ativos nas fases iniciais de implantação de criptoativos nos últimos dois anos, com uma aceleração acentuada no final de 2021 e início 2022 e, mais tarde, recalibração frente ao inverno cripto.

Nesta fase, as instituições oferecem produtos e serviços com exposições e pontos de entrada limitados, como criptoativos regulamentadas, dentre eles fundos como ETPs e contratos futuros e de opções. Essa abordagem ajuda a promover a tração interna e do cliente, permitindo que o banco construa experiência e um histórico com essas novas ofertas.

2) Tecnologia de plataforma de ativos e boa infraestrutura

Com a proliferação acelerada de plataformas de criptomoedas e de ativos digitais, ao lado da explosão de moedas disponíveis, cerca de 10 exchanges centralizadas (CEXs) dominam o mercado. Essas plataformas exigem que os usuários depositem criptomoedas em uma conta para poderem negociar os ativos e oferecem meios aos clientes para converter seus ativos digitais em moeda fiduciária. Também fornecem negociação, custódia e facilidades para outros criptoativos como stablecoins e NFTs.

Mas, ainda existem CEXs que operam sem supervisão regulatória e a maioria é estabelecida em jurisdições que impõem regulamentações mínimas, afirma a Capco. A tecnologia de registro distribuído (DLT)/blockchain usada para os criptoativos fornece suporte para várias aplicações bancárias em finanças tradicionais e digitais. Os bancos devem avaliar qual delas é mais adequada para seus objetivos estratégicos.

3) Projeto de Modelo Operacional, Interoperabilidade e Regulação

De acordo com a Capco, modelos operacionais bancários tradicionais enfrentam processos técnicos e deficiências funcionais ao integrarem criptoativos. Isso se deve a problemas de interoperabilidade com blockchain, porque não são adaptados para executar dados dessas moedas digitais. Por isso, camadas de integração são necessárias.

Além disso, a integração do cliente de cripto é complicada, porque os processos e ferramentas de conformidade tradicionais são insuficientes para avaliar e controlar os riscos relacionados. Muitas vezes, são necessárias análises forenses para determinar a propriedade de criptos para rastrear e prevenir transações arriscadas, incluindo lavagem de dinheiro, violação de sanções e financiamento de terrorismo.

A estrutura regulatória está sendo construída aos poucos no mundo. A lei brasileira 14.478/22 é um exemplo, assim como a que a Suíça implementou em 2021 para colocar proteções e promover a inovação em blockchain e criptoativos.

4) Opções de Custódia Confiáveis e Gerenciamento de Chaves

A custódia de ativos digitais é única devido às chamadas chaves privadas, tipos de senhas que o dono dos ativos ou os custodiantes usam para acessá-los. Esse ecossistema inclui empresas cripto nativas e fintechs que, em geral, fornecem tecnologia e soluções de infraestrutura para instituições que desejam fornecer e/ou administrar seus próprios serviços de custódia.

Assim como acontece com os ativos tradicionais, a custódia de ativos digitais é necessária para garantir que possam ser armazenados e negociados de maneira segura e confiável. Os custodiantes de cripto qualificados geralmente oferecem uma solução inicial que se conecta diretamente a contas de carteira omnibus (coletivas) e/ou segregadas, onde os bens são salvaguardados.

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