A TuneTraders, startup brasileira que usa blockchain para mudar a forma como a indústria da música funciona, está agora preparando em duas ações de peso. Uma delas é a tokenização dos direitos de co-produção de uma “grande cantora sertaneja”. Algo similar com o que fez com uma música inédita do cantor Zeca Baleiro em agosto passado. A outra ação é uma rodada de captação para sua próxima fase de expansão, que a empresa não abre o valor.
“Temos um roteiro: o primeiro passo que implementamos foi o fomento de novas obras de artistas. O próximo passo é integrar Interfaces de Programação de Aplicativos (APIs) de distribuidoras e associações de músicos. Assim, vamos automatizar o recebimento dos royalties dos artistas e o pagamento para quem comprou tokens para co-produzir seus trabalhos”, disse ao Blocknews o fundador e CEO da TuneTraders, Carlos Gayotto, o Cacá.
Um dos desafios da integração é fazer todo mundo entender o jeito novo de financiar música e distribuir ganhos com blockchain. Hoje, em geral, as gravadoras montam fundos para financiar os artistas. Mas, também trabalham muito na divulgação e relacionamento deles. Além disso, a era da venda dos discos deu lugar à compra de uma música por vez e ao streaming, por exemplo, e para os artistas também é desafiador ver a possibilidade de ganho, diz o empresário.
Por isso, “a TuneTraders quer que o artista faça uma música por mês e no final do ano tenha um disco de 12 faixas”, diz Gayotto. Mais viável, mais rápido de produzir e com receita entrando ao longo do tempo. Para isso, no seu modelo, pode contar com os micro-investidores.
TuneTraders quer fazer disrupção “de fora para dentro”
A TuneTrader quer também que as gravadoras e distribuidoras se juntem à plataforma, que pode facilitar a captação de recursos, reduzir seus custos e permitir que se dediquem, por exemplo, à promoção dos artistas, algo que têm feito cada vez mais, diz Gayotto.
E mais tarde, a startup quer estar até na distribuição, já que o plano é ter um streaming próprio de música. “Queremos fazer uma disrupção de dentro para fora. É melhor do que brigar com todo mundo. Não vamos tirar a gravadora do mapa, é um modelo de ‘coopetition'”.
Desde que começou a operar, no início de 2020, a TuneTraders soma sete casos de músicas com financiamento por tokens. “Fui bem conservador para validar o Mínimo Produto Viável (MVP)”, afirmou Gayotto, que sempre trabalhou com audiovisual, inclusive na Disney e SBT.
Dos sete artistas, os projetos de quatro deles foram de R$5 mil para cada um. Para Zeca Baleiro foram 1.360 tokens a R$ 100 cada, um total e R$ 136 mil. Venderam R$ 58,5 mil. O retorno em royalties para quem tem o token começa a ficar claro em 3 meses, segundo o CEO. “Achei excelente o número, inclusive porque o custo de produção é de no máximo de R$ 15 mil.
Para a próxima “grande cantora do sertanejo”, como a TuneTraders a descreve, sem revelar o nome, a tokenização deve girar em torno de R$ 250 mil. Mas, o projeto inclui também diversas outras ações de lançamento da faixa, inclusive em programas de TV em horário nobre. Segundo a startup, a artista tem que tem “milhões” de seguidores no Instagram.
Startup usa Hyperledger Fabric
A startup usa a blockchain Hyperledger Fabric desde o início, na fase de protótipo. Isso porque uma tecnologia pública não soava bem aos investidores. O avanço da Hyperledger, com a solução Cactus, permite a integração com outras blockchains e facilita a interoperabilidade. Assim, poderá mobilizar carteiras para usar o token Ethereum ERC-20, por exemplo. O token da empresa é proprietário.
Agora, a TuneTraders acaba de fechar a contratação da GoFabric, plataforma de orquestração de redes em blockchain Hyperledger da GoLedger, e também a prestação de serviços de desenvolvimento. “Ajudamos os clientes a fazer o desenvolvimento, mas não precisam ficar conosco para sempre. Se no futuro não quiserem mais permanecer com a GoLedger, ficam com o código”, diz Otávio Soares, COO da empresa.
Maurício Magaldi, mentor de blockchain da startup, afirma que a GoFabric dará mais robustez ao projeto. E que a escolha pela GoLedger se deve ao fato de ser a principal empresa com domínio da solução no país.
Gayotto explica que a TuneTraders, como a indústria fonográfica, segue a regulamentação do Escritório Central de Arrecadação (Ecad), que faz as cobranças de veiculação de conteúdo de direitos autorais.
O token também não é um security, ou título que dá ganho financeiro, que precisaria de autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), caso também de determinados crowdfundings. E não é security porque quem compra afeta o ganho, já que quando escuta a música, gera royalty. No security, o detentor do título não tem essa influência.
Plano é ter streaming próprio e se internacionalizar
No entanto, o plano futuro da TuneTraders não envolve só a plataforma própria para executar as músicas. A startup também quer se internacionalizar e para isso, precisará de recursos. Poderá ser até por meio de emissão de criptomoeda (ICO), mas isso dependerá da demanda, porque o projeto não precisa de cripto para rodar.
Gayotto explica da seguinte forma a ideia de uma plataforma para executar as músicas: “Para o usuário é excelente usar o Spotify, mas para o artista que não vende mais disco essa situação é horrível. A gente quer incomodar os atores muito grandes do mercado e devolver o poder para os artistas.”
“A minha visão é que há dois anos, num auditório com 100 pessoas, havia em média 500 devices conectados. Muito em breve, esse número de devices aumentará exponencialmente, cruzando dados o tempo todo. Então eu vou ouvir uma música e se estiver no blockchain, posso passar a execução pública para coletar os royalties”, diz o empresário.
E a empresa também pensa nas mídias de vídeo: “Isso tem um potencial incrível, mas primeiro precisamos validar o ticket menor”, explica Gayotto.
A TuneTraders é membro da iniciativa Open Music, do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e do Berklee College of Music que estuda uso de novas tecnologias na cadeia de produção da música e passou pelas aceleradoras FGV Ventures e Big Bets.
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