Negociar e gerenciar transações com mais facilidade e eficiência, vender e até usar roaming para consumo de energia, como se faz com os telefones. Esses são alguns dos usos que blockchain permite e que foram apresentados na abertura do 1º Simpósio O Potencial da Blockchain no Setor Energético”, na terça-feira (9).
Representantes da IBM, CPqD, Fohat e EY discutiram sobre “Cenários do uso da blockchain no mundo e no Brasil” no evento organizado pelo Blocknews e a consultoria Mentors Energy. O segundo painel será na próxima terça-feira (16) sobre o tema “Soluções oferecidas pelo mercado”, com Oracle, R3, Multiledgers e Interchains. O link da inscrição é https://bit.ly/3hlrPQ .
Segundo Alexandre Boschio, gerente sênior de supply chain, logística e manufatura da EY, a evolução no segmento de energia elétrica está influenciando as novas tecnologias. Novas fontes, como solar e eólica, geram perguntas das empresas, como onde devem investir e como usar as novas soluções.
“Há novas ideias e a lei 9991/2000 traz a possibilidade para as empresas de distribuição de investirem 1% da receita operacional líquida em projetos. Isso pode subsidiar investimentos iniciais em MVPs (Minimum Viable Product) ou PoC (prova de conceito)”, afirmou o executivo. Segundo a lei , 0,75% da receita deve ser em P&D para ajudar a desenvolver o setor e 0,25% em programas de eficiência energética.
150 projetos no mundo
Segundo Boschi, já foram lançados cerca de 150 projetos de blockchain no setor de energia no mundo e 86% deles estão em PoC ou teste. E há uma aceleração desses números. Ainda não há dados sobre o Brasil, onde também há novos projetos.
Os investimentos estão previstos para atingirem US$ 3,7 bilhões em 2026, sendo 67% concentrados em atividades transacionais de energia. Os recursos em veículos elétricos devem começar a aparecer na conta em 2021.
No Brasil, a EY empresa montou um time apenas para trabalhar com blockchain, que é desenvolvida em 7 laboratórios da empresa no mundo. Há 50 soluções prontas para serem implantadas em diferentes setores.
Em energia, um dos casos em que a EY participou é de rastreabilidade de origem da energia de uma empresa que opera nos Estados Unidos e Europa. Esse segmento certamente vai se desenvolver com a preocupação de pessoas e empresas de garantirem que usam energia renovável.
3 motivos que movem o setor
O que tem gerado essa movimentação do setor em busca das novas tecnologias está relacionado à tendência mundial de digitalização, como da comunicação das redes, de descentralização dos recursos energéticos e de eletrificação para uso de uma energia mais limpa, disse Luiz Ramos, especialista de sistemas de energia do CPqD. A empresa está envolvida em diversos projetos com blockchain no Brasil e também no exterior.
“Teremos um ambiente mais complexo no setor, com um consumidor com carro elétrico, em programas de gestão de demanda, que vai participar de forma mais intensa na distribuição e geração”, exemplificou.
Para Ramos, discussões promovidas pelo governo e reguladores desde 2017 estão caminhando nessa nova organização do setor. As discussões incluem a revisão das regras de geração distribuída e de modernização do setor, para ficar em alguns exemplos.
Para exemplificar esse novo mercado, Ramos mostrou o projeto de marketplace desenvolvido por CPqD, Copel e Aneel. É um modelo transacional em rede blockchain fechada (permissionada), que permite a compra e venda de energia entre consumidores e prosumidores (consumidor que também gera a energia).
Isso é feito com o uso de tokens (ativos digitais, algo como a ficha de quermesse), permite nova remuneração de excedente de produção e mais competição.
Blockchain no lugar certo
Mas, Ramos faz um alerta: é preciso analisar bem antes de se decidir por blockchain. A tecnologia já teve seu momento hype, o que fez com que fosse usado em situações inadequadas.
“Blockchain deve ser a escolha mais adequada quando comparada a outras opções convencionais. Incertezas técnicas e financeiras devem ser tratadas, em conjunto com os aprimoramentos de natureza comercial e regulatória. Há oportunidades para quem está no mercado, como as empresas tradicionais e as entrantes”, completou.
Para Igor Ferreira, CEO da Fohat, empresa de soluções em energia que tem projetos com blockchain no Brasil, Chile, Espanha e Austrália, o uso da tecnologia em energia passou a ser um grande diferencial com o smart contract (contrato inteligente) da rede Ethereum.
Além de criar eficiência, pode gerar também receita, lembrou ele, como no caso da venda de excedentes prevista no projeto num mercado municipal na Austrália. Nele, o mercado e a comunidade do entorno podem produzir, consumir e vender energia entre si.
A Fohat particpa do desenvolvimento de uma plataforma para a AES para fechamento de contrato de energia. “Nossa ideia é criar um ambiente de balcão tokenizado que usa blockchain para melhorar a segurança na negociação bilateral. Um dos mecanismos é a execução de ordem, comunicação entre as partes e informação a mercado”, disse Ferreira. Quando são negociados, usa-se o smart contract para o fechamento e registro na blockchain na (rede) da Energy Foundation, completou.
Cidades inteligentes
De acordo com Carlos Rischioto, líder técnico de blockchain da IBM, além do uso da tecnologia nas operações tradicionais das empresas, blockchain está ligada a conceitos novos, como o de cidades inteligentes.
A empresa está participando de projetos inovadores em diversas partes do mundo, como o da Tennet, na Holanda, em que uma ilha hoje funciona num novo modelo: o usuário de um carro elétrico, quando chega em casa à noite, no pico do consumo de energia, devolve para a rede o que há de excedente na bateria do seu veículo. Passado o pico, o carro é recarregado.
“Blockchain ajuda a coordenar toda essa operação e a remunerar o dono do carro pela energia devolvida ou, no mínimo, faz a empresa trocar a bateria do carro, já que aumenta o ciclo de recarga, o que reduz sua vida útil”, afirmou.
A Holanda está bastante à frente em energia limpa e blockchain, com vários projetos em vários setores, se destacando muito em energia limpa”, completou.
Pode parecer coisa muito do futuro, mas o executivo afirma que com a Enexis desenvolve o roaming de energia. Um exemplo é uma pessoa que usa o carro da empresa em que trabalha. Ao recarregar a bateria em casa, dispositivos inteligentes saberão que a empresa dona do carro tem um contrato de compra de eletricidade com uma operadora de outra cidade, por exemplo. O carregamento é feito e depois as distribuidoras acertam as contas.
É um mundo novo e não tão distante. “Se prestarmos atenção nos ambientes de energia, geração, transmissão e distribuição, estamos chegando a modelos que podem sugerir a criação de novos projetos”, diz João Carvalho, CEO da Mentors Energy.
O Simpósio acontece entre julho e julho, sempre às terças-feiras, das 14h às 15h.