Negócio todo baseado em blockchain está próximo de surgir e trará enxurrada de possibilidades, diz Magaldi

Emissão de moedas corporativas criptografadas deve crescer, diz Magaldi.

No dia 31 de outubro, é aniversário da blockchain e das criptomoedas: serão 12 anos da data de divulgação do white paper “Bitcoin: Um sistema de dinheiro eletrônico peer-to-peer” , de Satoshi Nakamoto. Por isso, nos próximos dias, o Blocknews divulgará uma série de entrevistas com especialistas sobre blockchain e criptoativos para falar do que aconteceu até agora no mundo dos blocos e o que vem pela frente.

A primeira entrevista da série é com Mauricio Magaldi, criador e apresentador do BlockDrops Podcast, membro do capítulo Brasil do Projeto Hyperledger, mentor de startups que trabalham com blockchain e palestrante. Para ele, “um modelo de negócios unicamente baseado nas capacidades das tecnologias blockchain está na iminência de surgir e vai vir como uma enxurrada de novas possibilidades econômicas”. A seguir, a entrevista:

BN: Como você resumiria os primeiros 12 anos de blockchain?

MM: Com a tecnologia entrando na sua adolescência, vejo que passamos pela criação de novos mercados, como no caso das criptomoedas e criptoativos, e até mesmo pela criação de novos tipos de profissionais. Apesar de todo hype ao redor das tecnologias, me alegra ver que cada vez mais há interesse em aplicações menos óbvias e que passam a gerar valor real, mudando a perspectiva de uso da tecnologia do âmbito especulativo para soluções práticas e que afetam o dia a dia dos mercados e até das pessoas. Nos últimos 5 anos, saímos de um mercado que tinha muitos eventos para falar do potencial do assunto, para diversos eventos onde se mostram os resultados reais das aplicações construídas com a tecnologia. Muita educação ficou disponível para todos os níveis de conhecimento, a mídia abraçou blockchain como um tema recorrente, os reguladores entenderam seus riscos e potenciais e diversas indústrias começam a se reinventar calcadas nos benefícios únicos que blockchain oferece.


BN: Em que estágio estamos de uso de blockchain no Brasil?
MM:
Em alguns aspectos estamos pari passu com o resto do mundo, tanto nas soluções que têm sido desenvolvidas no país, quanto nos profissionais de destaque. Ficamos atrás em educação: apesar da oferta ser muito ampla, ainda devemos muito, tanto no nível técnico, quanto no nível executivo. Quanto melhor educados – e em maior número – forem os executivos das empresas, mais numéricas e maiores serão as oportunidades de aplicar a tecnologia para transformar as indústrias. A vasta maioria das soluções ainda não estão funcionando a pleno vapor,e isso é uma diferença em relação a países onde o hábito de ser “first mover” ou “early adopter” é mais comum.


BN: Há ainda muito para se testar e descobrir em blockchain no mundo?
MM:
Creio que os casos de uso mais óbvios já têm sido apreciados e testados em diversas partes do mundo. Além das criptos, creio que ainda não surgiu um modelo de negócios unicamente baseado nas capacidades das tecnologias blockchain. Esse momento está na iminência de surgir e vai vir como uma enxurrada de novas possibilidades econômicas.


BN: Qual é a característica da tecnologia que fez você se dedicar a enterprise blockchain?
MM:
A capacidade de colocar competidores para colaborar por uma indústria mais eficiente sem abrir mão de suas vantagens competitivas. Não conheço outra tecnologia que permita esse tipo de colaboração no nível da indústria e ao entender esse aspecto da tecnologia, as indústrias passarão a finalmente ter acesso às grandes transformações habilitadas pelas demais características da tecnologia.


BN: Quais são os 3 casos de blockchain mais interessantes que você já viu?
O primeiro que cito é a rede Ethereum, que surgiu como a primeira moeda programável e hoje impulsiona os mais variados casos de uso no mundo corporativo: de validação de contratos de compra a rastreamento de vacinas e prontuários médicos. Há também os casos de identidade auto-soberanas (SSI na sigla em inglês). No ambiente digital é fundamental saber com quem você está transacionando e também ter domínio sobre sua própria identidade e seus dados e metadados. Num ambiente digital como as redes sociais, em que somos levados a abrir mão da nossa privacidade, SSIs são uma nova maneira de retomarmos o controle sobre aquilo que é nosso e, porque não, monetizar nossos dados em benefício próprio. Por fim, cito os casos relacionados a gestão de direitos no ambiente digital: de filmes a música a videogames. Os modelos de gestão de ativos digitais têm se mostrado muito interessantes e podem finalmente gerar valor real para quem transaciona nesses ambientes.


BN: Você acredita que as empresas vão aderir com mais força aos tokens/stablecoins/utility coins?
MM:
Os movimentos recentes me fazem crer que sim e eles incluem as Moedas Digitais de Bancos Centrais (CDBCs, na sigla em inglês) e os casos de tokenização bem sucedidos realizados pelo MB Digital Assets com consórcios e precatórios e pelo banco BTG com o ReitBZ. As CDBCs são um movimento forte e sem volta, com a China liderando essa frente através do iuan digital, que já tem mais de 80 milhões emitidos para efeito de teste. A tokenização de ativos reais é outro, em que a paridade digital traz um aumento de liquidez ao ativo tokenizado, o que não seria possível de outra maneira. O movimento “tokenize everything” vai mudar a experiência de posse dessa e das próximas gerações.


BN: Como você imagina blockchain em 12 anos ou nos próximos anos? 
MM: Creio que nos próximos anos as tecnologias blockchain passarão a ser encaradas como aquilo que são: tecnologias de infraestrutura programáveis que incorporam mecanismos de confiança para a realização de trocas de valor no ambiente digital. A partir do momento em que os mercados entenderem esse aspecto, aí teremos de fato uma ampla utilização dessas tecnologias de maneira que não mais falaremos delas como algum feito de mágica, mas serão tratadas como hoje tratamos o TCP/IP (Protocolo de Transmissão de Comunicação/Protocolo de Internet) das nossas máquinas.

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