A Growth Tech, startup que desenvolve soluções blockchain focadas em registros e contratos do mercado imobiliário, planeja para 2020 uma expansão expressiva da sua rede de cerca de 40 membros (nós) e a entrada de um investidor na empresa, disse ao Blocknews Hugo Pierre Furtado, fundador e CEO da empresa.
A entrada de um investidor, um venture capital, está na fase final de negociação e pode ser anunciada muito em breve. Com esse investidor devem vir novos nós, incluindo os que farão parte de uma operação piloto bilionária prevista para meados de fevereiro, segundo Furtado.
“A estimativa é que a rede ultrapasse 100 nós neste ano.” Hoje, entre os membros há cartórios, que respondem por cerca de metade do total, incorporadoras e administradoras de condomínios. Um banco está em negociação para entrar na rede e seguradoras têm conversado com a Growth Tech em busca de informações, segundo o fundador da startup. Ele não divulga os nomes desses interessados.
A Growth Tech tem várias atribuições e por isso, cada nó decide como utilizá-la. Podem, por exemplo, usar apenas a parte de cartório ou para registro de crianças. Com isso, a startup também conseguiu diversificar seu negócio em 2019. De todas as transações, 20% não são do mercado imobiliário.
O uso diversificado permite que a empresa esteja atualmente em conversas, por exemplo, com governos estaduais para a criação de prontuários únicos de saúde e de listas de espera para doação de órgãos.
Mas o foco principal continua sendo o imobiliário. “É uma equação que fecha porque há muita carência de tecnologia e há recursos para serem investidos”, completou.
Por isso, em 2020, um esforço da empresa será mostrar aos governos e reguladores a viabilidade da blockchain nessa área, o que a tecnologia traz em eficiência e que por que é benéfico haver regulação sobre seu uso.
Hoje, a regulação não proíbe blockchain, mas ainda não está atualizada sobre as novas tecnologias. O objetivo desse esforço é atrair mais cartórios. “E eles podem atrair outras empresas do mercado imobiliário, como incorporados e bancos”.
Para Furtado, muitos cartórios não entram na rede por receio de que no final, serão eliminados pela tecnologia. Ele afirma que essa não é a intenção. “Vejo tecnologia como uma forma de melhorar as transações. É regra de negócio com algoritmo. E quem faz a regra é quem está no negócio.”
Visão
A startup nasceu depois que Furtado, que já trabalhava em tecnologia, percebeu que a blockchain poderia mudar a forma como a sociedade transaciona. “Daí decidi empreender em blockchain e pesquisei o mercado. Vi que no segmento de cartórios poderia haver um impacto grande, dado o faturamento desse setor.”
O faturamento do segmento foi de R$ 16,3 bilhões em 2018, dado mais recente. Essa receita subiu 46% desde 2013 e inclui todos os 11,6 mil cartórios no país.
Feitos vários pilotos, Furtado percebeu que em torno de 2/3 da receita vem do mercado imobiliário. “Vi que é um mercado muito analógico, que usa papel, mas que responde por boa parte do PIB brasileiro”. Disso tudo nasceu a Prop Ledgers, uma solução para o mercado imobiliário.
A Grow Tech usa a Hyperledger e tem o apoio da IBM, por estar no programa de Open Ventures de mentoria da empresa.
A startup tem 35 funcionários, opera com lucro e fatura na casa dos milhões de reais – número não é revelado. A entrada do investidor é o primeiro aporte externo feito na empresa, segundo seu fundador.
Dos pilotos da Growth Tech, alguns saíram na mídia, como uma operação da MRV, que comprou um terreno, fez a escritura e registrou a incorporação do empreendimento em blockchain. Um processo normal exige a entrega e avaliação de malas de documentos, segundo Furtado. Com a blockchain, se fez tudo isso em 4 dias, enquanto o normal seriam até 4 meses. No final, significou colocar o empreendimento à venda muito antes do usual.
Houve também o primeiro registro de união estável, que foi de dois homens em cidades diferentes – São Paulo e Rio de Janeiro – e o de um bebê que nasceu na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, maternidade que aceitou participar do piloto – o registro foi feito em 7 minutos no hospital e por tablet, ao invés das usuais 24 horas com ida até o cartório.