A Veracruz, empresa do brasileiro David Carvalho em Portugal, vai utilizar blockchain para rastreamento de sua produção de amêndoas. Assim, quer valorizar seu produto, ao dar ao consumidor a garantia de que a amêndoa é produzida com base na agricultura sustentável.*
O negócio começou em 2018 e em 2020 houve uma colheita considerada “simbólica” de 80 toneladas. Para 2021, a previsão é de 200 toneladas. A plantação está e 267 hectares e 490 mil árvores em cinco propriedades em Fundão e Idanha-a-Nova. Ambas são no distrito de Castelo Branco ou seja, no centro do país e próximo da Espanha. A expectativa é chegar a 4 mil toneladas ao ano quando a produção estiver a pleno vapor.
Carvalho é do setor de tecnologia. “A ideia de usar blockchain começou quando começamos a olhar projetos de tecnologia para diferenciar a produção”, disse ao Blocknews o diretor de tecnologia e inovação da Veracruz, Alexandre Sousa.
Portanto, “isso passa por sistematização da produção, certificações que comprovam que estamos usando as melhores práticas e blockchain, na qual nos apoiamos para digitalizar as informações”.
A empresa vai usar a blockchain da Celo, que criou uma rede para finanças inclusivas e se denomina negativa em emissão de carbono. “Pesquisamos uma blockchain para dar segurança, transparência e que fosse sustentável”, explicou Cassiano Peres, sócio e CTO da Arabyka, que implantar blockchain e que fez projeto similar com café da Syngenta.
Rastreamento será com blockchain da Ripple
A empresa deverá usar a Ripple, que tem consumo muito baixo de energia elétrica. A plataforma será modular e poderá escalar conforme a necessidade. Blockchain é um dos módulos. “Se precisarem, poderão incluir, por exemplo, gestão de contrato e assinatura digital.”
E tudo ficará na nuvem da AWS. Assim, haver uma aplicação de alta disponibilidade, “sem precisar ficar gerenciando serviços, sem custos de máquinas virtuais. É bastante escalável e os custos são mais fáceis de serem gerenciados.”
O projeto relacionado a rastreamento com blockchain custará 200 mil euros em dois anos entre infraestrutura e custos associados, de acordo com Sousa. A rede começará registrando dados do campo, como insumos usados, informações das árvores, da água, lote de safra e da colheita. Depois, deve passar para os registros das fases de beneficiamento, em seguida para a de transporte e ponto de venda.
O consumidor poderá acessar os dados por um código QR nas embalagens, que deverá levar a um site com os registros. Como é uma plantação que planeja ser sustentável, blockchain poderia permitir, no futuro, o registro da emissão de créditos de carbono e até de uma moeda relacionada a isso, já que na Celo rodam contratos inteligentes.
Por permitir esse tipo de rastreamento, “blockchain nasceu para a indicação geográfica”, afirma George Hiraiwa, sócio da Arabyka. É fato que muitos produtos como café e queijo são vendidos com indicações geográficas que são, porém, falsas.
Veracruz quer certificados para exportação
O fato de a produção de amêndoas ser da empresa facilita o rastreamento. Em produtos a granel como soja ou até cana-de-açúcar, em que há diversos fornecedores para uma indústria, o rastreamento de terceiros é difícil e pode ser inviável. O motivo: falta de interesse dos terceiros darem mais transparência a seus dados.
De acordo com Sousa, o rastreamento das amêndoas com blockchain, que pode evitar fraudes, chama a atenção dos compradores internacionais das amêndoas. “Blockhain é uma garantia a mais, gera valor. Acho que poderemos cobrar mais pelo produto, porque há quem entenda o processo. Mas ainda não tenho ideia de quanto a mais”, afirmou. O preço médio da amêndoa é de 4 euros por quilo.
Estar de acordo com o que pedem certificações como a Global Gap, de boas práticas agrícolas, é um desafio até maior do que registrar os dados em blockchain, afirmou o diretor de inovação da Veracruz. “Demandam ajustes, mudanças nas instalações. Mas, sem elas, não valeria a pena inserir blockchain.”
Arabyka está em polo tecnológico de Londrina
Hiraiwa, afirma que a empresa começa a mapear o processo de gravações dos registros da colheita. Em 2019 propôs o projeto com blockchain para a Syngenta. E em 2020, contatou David Carvalho, da Veracruz pelo LinkedIn.
Um dos motivos pelos quais empresas olham para blockchain em casos como o da Veracruz é a pressão dos consumidores por produções sustentáveis. Em especial na Europa e nas gerações mais novas.
Por isso, empresas que compram as amêndoas para colocarem em seus produtos também valorizam esse rastreamento. Até porque, exploram isso em ações de marketing. Por enquanto, a Veracruz só vai vender no atacado. A ideia é vender com marca branca numa fase posterior.
Além de consumidores, tem a pressão de investidores. A Veracruz quer atrai-los no futuro. Mas esses estão também de olho nas práticas ASG (ambiental, social e governança). Muitos já fogem do que não tem garantia de boas práticas.
A Arabyka é uma empresa de Londrina, cidade que em 2019 recebeu o status de polo tecnológico agropecuário do Ministério da Agricultura e Agropecuária. Na época, a ministra Tereza Cristina Dias afirmou que haveria outros no país. No entanto, isso ainda não se concretizou.
Hiraiwa, que é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Usp), contou que começou um movimento de inovação na cidade com um hackathon em 2016. Depois, isso se estendeu até 2019. Em 2018 se tornou secretário estadual de agricultura e fez mais 15 hackathons no estado.
De acordo com ele, a Arabyka dá consultoria a seus clientes para certificarem seus produtos. Assim, isso inclui tecnologias como blockchain.
*Reportagem atualizada às 19h00 com informação da empresa de que não deverá mais usar a blockchain Celo, e sim a Ripple.
3 comentários em “Brasileiro usa blockchain em Portugal para rastreamento de amêndoas”
Ótima matéria !
Obrigada!
Sustentável e Inteligente Parabéns???