Os benefícios de blockchain para empresas, governos e pessoas são conhecidos, mas quando a tecnologia é aliada a Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), pode pavimentar um caminho que tem condições de desembocar em cidades inteligentes, as smart cities.
“Smart cities podem abarcar situações como preservação do meio ambiente, aumento da segurança, facilidade de serviços públicos, energia e serviços financeiros. Tudo isso com sistemas inteligentes de alta tecnologia interligados através de equipamentos gerando informações e automação de tarefas. E aí podem ser conectados a pessoas através de seus aparelhos. Usando blockchain, isso pode escalar ainda mais”, disse João Carvalho, fundador e CEO da Mentors Energy Consulting no painel “IoT, AI e Smart Cities” do 1º Simpósio – O Potencial da Blockchain no Setor Energético, no último dia 30.
Um projeto que se encaixa nesse perfil é o PowerHouse, na Noruega, fruto de uma parceria da Entra, que construiu o prédio, da empresa de energia Engie e da Land Rover. O edifício gera 500 mil KWh com painéis solares no teto e consome 280 mil KWh – a energia positiva, superavitária.
“A sobra vai para carros, ônibus e prédios vizinhos”, afirmou o panelista Marcelo Creimer, gerente de inovação da eZly Tecnologia e professor na Fiap. Toda a contabilidade do projeto é feita por blockchain. “Não é fácil validar que a energia é renovável, mas com blockchain isso é possível”, exemplificou.
Blockchain com Iota
E por que uma empresa como a Land Rover participa disso? Por conta da sua estratégia de emissão zero de carbono. Unidades do Jaguar I-Pace, primeiro modelo todo elétrico da marca, rodam com uma carteira digital que permite ao veículo ganhar dinheiro ao reportar problemas nas ruas como buracos e condições climáticas. O dinheiro pode ser usado para pagar estacionamento, pedágio e carregamento de energia, numa espécie de programas de milhas. “A Jaguar quer que seus carros sejam equipados com sistemas Machine to Machine (M2M)”, explicou.
Nesse projeto, foi usada a blockchain Iota, que é voltada para IoT e na qual as transações são encadeadas como num emaranhado e não de forma linear, como é usual com a tecnologia. . É uma rede pública e sem taxas, criado pela Fundação Iota na Alemanha, sem fins lucrativos e cerca de 100 representantes no mundo, inclusive no Brasil.
“Iota tem escalabilidade, porque quanto mais transações, mais rápida fica, não precisa de tantos recursos computacionais, não precisa de nó com perfeita conectividade e pode transacionar valores mínimos, de centavos, porque não tem taxa”, explicou Creimer.
Energia tem papel crucial
A questão não é usar IoT e IA só pela tecnologia, mas pelas questões a serem respondidas, lembrou Flavio Waltz, vice-presidente de Novos Negócios da Radix, empresa de engenharia e tecnologia que exporta serviços para 5 continentes, incluindo líderes do setor de energia. Nesse sentido, a tecnologia em energia tem papel fundamental em cidades inteligentes.
Waltz lembrou que projetos de IA, para terem sucesso, precisam de informação disponível e como muitas vezes não há, acopla-se IoT.
A Radix implantou na CPFL, com a área de inovação da empresa, um sistema de IA que dobrou para 80% a assertividade na detecção de trotes. O sistema é baseado em dados armazenados das ligações, como endereço, horário, dia da semana e tipo de chamado aberto. Um dos reflexos dessa melhoria é que as equipes conseguem atender mais chamados verdadeiros, por não serem direcionadas a casos falsos.
Na ISA CTEEP, transmissora de energia elétrica, foram instalados controles de tensão e gestão de alarmes com IA. “É muito crítico uma queda de tensão”, lembrou Walts. Blecautes podem gerar perdas milionárias para as transmissoras, inclusive pelas multas que as transmissoras podem tomar, fora o problema aos consumidores e a crise de imagem que causam.
AI para produção de leite
Roberto Baraldi , CEO da AuroraStarChain, empresa de soluções IoT, IA e blockchain, afirmou que o crescimento de IA é exponencial seu uso é muito diversificado. Uma smart city pode ter, pr exemplo, uma smart farm.
Baraldi já implantou um projeto na China que aumentou de 2,5 toneladas de leite por ano para 11,8 toneladas ao ano. Para isso, foi usado um colar criado pela sua empresa, o ICCC (Intelligent Cash Cow Collar), que com AI e IoT ajuda a controlar período do cio com monitoramento 24×7 da temperatura e conforto do animal. “Isso diminuiu o intervalo de partos de 415 dias para 400 dias e houve aumento médio de produção de 0,9 kilo de leite por dia”, completou.
Projetos desse tipo são feitos de forma isolada ou pensados como parte de outros maiores – às vezes muito maiores, como é o caso da Neom city, que a Arábia Saudita que construir. A cidade futurística foi projetada para ter 33 vezes o tamanho de Nova York, ser inteligente e ter até carros voadores. Está prevista para ser construída num deserto a partir deste ano e a um custo mínimo de US$ 500 bilhões.
No Brasil, Curitiba é a cidade que está mais à frente no conceito de cidade inteligente, disse Carvalho, da Mentors Energy. Ainda não é uma smart city, mas tem ações nesse sentido. Florianópolis também têm ações inteligentes. São José dos Campos, em São Paulo, idem.
Criar cidades inteligentes ajudam na gestão pública, com a interligação de equipamentos como sensores, radares, semáforos, câmeras, serviços, iluminação pública e transportes. “Israel instalou câmeras que detectam se as pessoas estão com febre”, afirmou Carvalho. Mas além de melhorar serviços, podem gerar receita. Exemplos disso são a monetização de informações sobre qualidade do ar e fluxo de pedestres. Mas para criar uma cidade inteligente, completou, é preciso que a sociedade participe desse processo e não seja uma ação isolada dos governos, completou.